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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Meu Samba Vai Tocar No Infinito



Emocionadíssimo... Coração inflado, lembranças maravilhosas...

/*Prepare-se post longo...*/

Em 1991, meus amigos de escola e de quadra sempre conversavam, além das brincadeiras, sobre música... Eu sendo surdo, ficava de fora...

Até que então, procurei minha mãe, Ma Amélia Barbosa, e falei a ela que queria ter uma música, um estilo que eu pudesse conversar com meus amigos a respeito...

Minha mãe, conhecendo-me bem, sabia que desde muito pequeno, sempre gostei do Ritmo do Samba. Em frente ao apartamento que morei em Realengo, Rio de Janeiro, passavam blocos de carnaval tocando maior samba. Eu corria pra janela, e ficava batucando, acompanhando aquela música que eu sentia, mas não ouvia...

Aquilo era minha diversão, minha felicidade na época de carnaval. E de perto eu podia ouvir aquela algazarra. Ouvia baixo e ficava maravilhado com aquela batucada.

Então, minha mãe procurou a amiga Marilene Assis que emprestou algumas fitas: Raça Negra, Razão Brasileira... Minha mãe, pacientemente, transcreveu cada música... Acompanhou a música junto comigo várias e várias vezes, mostrando onde ele cantava. E eu tentava associar aquela música e aquele ritmo maravilhoso...

Pronto! Eu tinha o Samba e Pagode. Tinha o que conversar com os amigos, que curtiam Rock... Rock nunca foi meu forte, o som é difícil de acompanhar, o ritmo difícil de entender. O pagode priorizava a percussão, perfeito pra mim.

Curtindo Grupo Raça, Raça Negra, Razão Brasileira... Meus amigos resolveram tocar violão e cantar...

Olhando na TV, vi o Razão Brasileira, tocando o samba, naquela formação clássica!!! Bati o olho no Bira Razão, tocando pandeiro... E afirmei: Vou aprender pandeiro!

Me virei, pedi pra minha mãe  aquela caixa de madeira, de requeijão durinho... Meti durex e comecei a treinar. Coitada, sofreu... Tinha que me aguentar cantando a mesma música, aprendendo cada música, repetindo por três meses, no mínimo.

Como?! Você deve estar se perguntando... Eu coloquei a mão na frente da caixa de som, daquelas grandinhas que os toca discos tinham, percebi o ritmo, a intensidade, e a demora de uma determinada vibração, e comecei a treinar em como produzir isso na caixinha... Consegui!

Juntei com um grande amigo, do qual tenho lembranças maravilhosas e o amo como irmão, mesmo de longe, o Glênio Barbosa Vieira. Cantávamos juntos, o terror da quadra, negada tinha que aguentar nossa voz desafinada cantando Raça Negra, Razão Brasileira, Só Pra Contrariar, Negritude Jr, Cartão Postal... Quase nos acertaram um ovo... rs

Juntei mesada, comprei meu primeiro pandeiro. Fajutinho, coitado... E montamos um chocalho pro Glênio, com duas latas e arroz. Começou outro treino. Não sabia como tocar pandeiro... 6 meses treinando até tirar o som. E tocando samba!

Em 1995 comecei a compor algumas músicas... Aproveitava a poesia e fazia minhas músicas. Ainda hoje lembro de algumas, eu tinha mais de 100, os papéis foram perdidos :(. Hoje eu lembro de umas 10 ou 15... As melhores. Não parei pra contar. ;)

Em 1997, fui pro RJ, visitar meus parentes e fiquei na casa dos meus padrinhos. E eles me deram um pandeiro que tenho até hoje, de madeira e pele de acrílico, 14''. Quem disse que eu conseguia tocar aquele pandeirão?!?! O som não saia, batia forte e o som nada... 3 meses de treino, larguei o pandeiro de "prástico" e adotei o pandeirão, haja braço! Mas amava fazer vibrar longe o samba...

Legal foi que quando ganhei o pandeiro, meu falecido avô Joaquim, sentava perto de mim, e me pedia as músicas, adorava juntar as composições dele para eu cantar, queria ouvir as minhas... Você está em meu coração, Vô, sei que me escutas. :)

Em 2011, fui convidado à casa da Aline Mirilli Mac Cord, um sambão! Conheci o Nemias Albuquerque, tocamos juntos. Ele, o pandeiro de couro, eu, o pandeirão. Tocamos samba por algumas horas, nunca me diverti tanto, obrigado a vocês. Aline tem uma voz potente e maravilhosa (descobri depois do IC), Nemias, um carisma que me deu confiança e eu pude tocar sem medo, à vontade. Altos sambas, ótimas músicas.

Implante Coclear ativado em Outubro de 2011, fui às lágrimas. Ouvir minha voz, poder cantar com amor, poder ouvir meu pandeiro... Estranhar o som, estranhar minha voz, achar grave e me emocionar, achar lindo... Em Dezembro, tocar samba pra minha esposa, no aniversário dela, com a Aline e o Diego da Cunha Perez, a emoção e alegria que senti, é indescritível. Com a presença de amigos, familiares... Foi maravilhoso.

Neste mesmo ano, no natal, ganho da minha esposa, Bárbara Barbosa, um pandeiro de 10'' de madeira e pele de couro, som delicioso... Minha voz agora sendo modulada conforme escuto... O pandeiro também sendo controlado além da vibração a audição, é maravilhoso.

Somos convidados novamente à casa da Aline, levo meu pandeiro novo e crio coragem pra cantar... Emoção a flor da pele... Perceber as pessoas curtindo a música, sem estranhamento, eu cantando "Fé em Deus" baseado na interpretação de Diogo Nogueira... Linda música, me emocionei, puxei também "Enredo do meu Samba", de Jorge Aragão. Aline cantou maravilhosamente bem, com a voz forte. Eu podia arrebentar o pandeiro e a voz dela limpa, linda, acompanha tranquilo... minha esposa no meu lado, que também tem uma voz linda. DEUS! Muito obrigado!!!

Sempre pego meu pandeiro para tocar, sozinho mesmo, cantar... Ver meu filho sorrir, parar de chorar na mesma hora quando ouve meu pandeiro... Querer batucar, vir pra perto de mim... Minha filha dançar... Quando pego meu pandeiro... Pode ter certeza, estou muito feliz. E não tem jeito, me emociono.

Esses anos todos... Pra descobrir o som em 2011, e me encantar com isso... Não me arrependo de nada da minha vida.

Hoje, estava triste, sem motivo aparente... Fui pro YouTube, procurar uma música pra dar uma distraída, digitei Raça Negra, e me deparei com o "DVD Completo Raça Negra e Amigos", comecei a escutar e fui às lágrimas, redescobrindo sons, as músicas... Ouvindo! Gente!!! Ouvindo!!! Entendendo e cantando junto...

Não tou nem aí praqueles que odeiam samba e pagode... Perdão. O Samba tem um significado mágico e especial na minha vida. Gosto, cada um tem o seu... Não vamos discutir isso. rs

Caramba! Emocionadíssimo até agora... Já tem mais de 1 hora... Obrigado amigos por me acompanhar.

Um abraço forte!
Lobo

Em tempo:
 Uma lembrança tardia, mas das mais caras me veio agora... Ainda muito pequeno, no Realengo, andava pelas ruas com meu pai Joaquim Porto Barbosa. Íamos pelo caminho assoviando.Eu ainda não usava aparelhos auditivos, tinha uns 3 ou 4 anos de idade. Íamos para a padaria juntos, então, meu pai olhava para mim e começava a assoviar. Era como um sinal: "Vamos assoviar?". Fazíamos isso para chamar o vento e depois soltar pipas. Foi o meu primeiro contato com a música, o ritmo, o som alto e agudo. Tinha que ser bem alto para eu ouvir e entender o som e o ritmo, depois copiar. Lembro do sorriso nos olhos do meu pai. De como isso marcou a minha vida. De como me dava segurança e tranquilidade. Voltava sempre alegre com um suspirão quadrado na mão. Creio que talvez eu tivesse uma perda moderada ainda porque, anos mais tarde, não percebia mais o som do assovio, por mais alto que fosse. Só com os aparelhos.